A utilização do chamado “Compost Barn” tem ganhado espaço na pecuária leiteira, devido às suas vantagens de produção. O sistema de confinamento sustentável promete o aumento da produtividade em 60%, manejo simplificado, além da prevenção de doenças e parasitas.
A iniciativa baseia-se no confinamento dos animais em galpões cobertos com camas de materiais orgânicos, como serragem ou palhada revolvida, mais a instalação de ventiladores, para garantir conforto e higiene aos animais.
As camas a base de compostagem promovem uma fermentação dos dejetos e, com a ajuda dos ventiladores colocados estrategicamente, deixam o ambiente mais fresco, resfriam os animais, ajudam na decomposição das bactérias nocivas aos animais, como a causadora de mastite, além de reduzir os problemas de casco.
O engenheiro agrônomo e gestor de desenvolvimento rural da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural), Cristian Carlos Felippi, explica que além de permitir o aproveitamento sustentável dos dejetos e prevenir a mastite, uma das principais causas de perda de produção de leite, o Compost Barn auxilia também no controle de carrapatos.
“As bactérias que promovem a compostagem esquentam esse composto, e aí ela acaba decompondo as bactérias nocivas e parasitas. O carrapato não sobrevive a este ambiente em compostagem”, pontuou Felippi.

Em projeto divulgado pelo pesquisador e médico veterinário Alessandro de Sá Guimarães, é confirmada a eficiência do Sistema Compost Barn à produção leiteira.
“O Compost Barn pode oferecer aos pequenos e médios produtores uma alternativa para elevar a produtividade, além de possibilitar maior conforto e higiene para o rebanho, contribuir para a redução de problemas de perna e casco, diminuir a contagem de células somáticas (CCS), aumentar a detecção de cio e a produção de leite e diminuir o odor e incidência de moscas”, afirmou.
Dentro da porteira
A produtora rural Kátia Rivani mudou a rotina de sua fazenda em Glória de Dourados (MS) ao implementar há quatro anos o sistema Compost Barn. Segundo ela, os casos de mastite diminuíram significativamente, os carrapatos sumiram do rebanho e sua produtividade cresceu 60% e alcançou a média de 26 litros de leite por animal.
“Tínhamos uma infestação de carrapatos, hoje a gente tá zerado. Sem contar a longevidade dos animais e a prenhez do gado que melhorou muito, não tem mais um estresse térmico. Foi muito específica a diferença do que a gente tinha antes pra hoje com o Compost Barn”, afirmou Rivani.

A propriedade com 10 hectares, com 40 vacas em lactação e 8 em pré-parto produz diariamente cerca de 1.040 litros de leite. A pecuarista explica que optou pela instalação de um modelo simples, mas que fosse funcional.
“Decidimos utilizar o sistema porque a gente viu que era viável, que a gente precisava produzir mais para ter a sucessão familiar e garantir a rentabilidade para nós continuarmos aqui. E foi muito bom porque nossos filhos se interessaram muito”, informou a gestora.
Manejo contínuo
O ambiente de bem-estar animal permite a expressão do potencial genético dos animais na produção de leite. Felippi explica que a alimentação contínua e o sistema de resfriamento fazem com que a produtividade cresça, os animais tenham mais sanidade e o ciclo de reprodução seja melhor.
“Na pista de alimentação, os animais também são resfriados, há uma aspersão de água ali com bico que molha os animais e acrescenta outra camada de proteção térmica. Os ventiladores juntamente com essa água causam um resfriamento do gado, promovendo um bem-estar animal, onde eles conseguem se alimentar melhor”, acrescentou o gestor de desenvolvimento rural da Agraer.
Dentro do Compost Barn os bovinos são divididos em lotes, para que cada bovino receba a alimentação e espaço de descanso adequados.

A densidade recomendada para o sistema varia entre 10 e 12 metros quadrados por vaca na área de descanso. A metragem ideal depende de fatores como nível produtivo do lote, umidade do ambiente e qualidade do manejo da cama.
Em regiões com maior índice de chuvas, é indicado utilizar até 12 m² por vaca, enquanto em locais mais secos e com bom manejo, 10 m² por animal costuma ser suficiente.
A instalação do Compost Barn varia da mão de obra local e da oferta de produtos na região – alvenaria, concreto para os pilares, estrutura metálica, além dos ventiladores e da cama de compostagem. O custo de produção envolve o consumo diário de energia para o resfriamento dos animais e a troca dos materiais orgânicos das camas.
Ciclo de sustentabilidade
A cama deve ser revolvida e oxigenada com máquinas revolvedoras/escarificadoras de duas a quatro vezes por dia e manter a temperatura entre 45°C e 60°C, para que a decomposição dos dejetos ocorra.
“Todos os dias essa cama é movimentada, ela é mexida para incorporar ali as fezes e a urina. O que promove a fermentação dos dejetos, trazendo um ambiente altamente saudável, com sanidade muito boa, porque as bactérias que promovem a compostagem, esquentam esse composto”, explicou Cristian Carlos.
Além de melhorar a produção leiteira, a compostagem da cama gera um composto orgânico rico em nutrientes que pode ser usado como fertilizante para a agricultura dentro da propriedade rural.

O reaproveitamento de nutrientes à base de fezes e urina animal pode ser utilizado na adubação de lavouras, permitindo ao produtor a realização do ciclo completo dentro da porteira, e consequentemente reduzindo os custos de produção.
“A reciclagem de nutrientes dá um excelente adubo, um produto muito bom para adubar de volta as pastagens, o milho onde é feita a silagem. Então o composto da cama, beneficia fazendo um ciclo. Colheu o milho, alimentou as vacas, foi para a cama, e aí volta de novo para a lavoura”, esclareceu o gestor de desenvolvimento rural da Agraer.
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