Com o início da safra 2025/26, um dado preocupa o setor produtivo: Mato Grosso tem capacidade para armazenar apenas 46,53% dos grãos que colhe. O déficit de armazéns é hoje um dos principais gargalos da agricultura no estado, que segue batendo recordes de produção sem o mesmo avanço em infraestrutura.
Produtores relatam dificuldades para acessar as linhas de crédito destinadas à construção e ampliação de armazéns. A elevação dos juros e a redução da subvenção ao crédito rural deixaram os investimentos mais caros e menos acessíveis, principalmente para pequenos e médios agricultores.
Em números, o cenário revela o tamanho do desafio. A produção de soja deve ultrapassar 47 milhões de toneladas nesta safra, enquanto a de milho já superou 54 milhões de toneladas na última. A capacidade estática atual do estado é de 53,4 milhões de toneladas, insuficiente para comportar o volume total das duas principais culturas, que somam mais de 100 milhões de toneladas. O déficit, portanto, passa de 46% – ou cerca de 52 milhões de toneladas.
Para o vice-presidente de Logística da Aprosoja-MT, Luiz Pedro Bier, Mato Grosso enfrenta o pior desequilíbrio do país entre produção e capacidade de armazenagem. Ele explica que o custo de construção é elevado e o crédito oferecido não cobre a necessidade real do produtor. Além disso, a burocracia e o tempo de liberação dos financiamentos dificultam o avanço de novos projetos.
Segundo Bier, muitos agricultores têm recorrido a soluções emergenciais, como o uso de silos bolsa, o que aumenta perdas e compromete a qualidade dos grãos. Ele destaca ainda que a falta de armazéns obriga parte dos produtores a vender a safra logo após a colheita, quando os preços estão mais baixos, reduzindo a rentabilidade.
O presidente da Aprosoja-MT, Lucas Costa Beber, reforça que a situação não é exclusiva do estado, mas um reflexo nacional. O Brasil produziu neste ano 350 milhões de toneladas de grãos, mas ainda enfrenta um déficit superior a 120 milhões de toneladas em capacidade de estocagem.
Beber avalia que o ritmo de crescimento da produção é muito superior ao da infraestrutura, o que torna o cenário cada vez mais crítico. O encarecimento dos equipamentos e das obras de armazenagem, somado à alta dos juros, tem afastado os produtores dos investimentos.
Principais indicadores da safra 2025/26
Quadro-resumo com produção, capacidade e déficit estimado
Soja (produção)
47 mi
Estimativa total (t)
Milho (produção)
54 mi
Estimativa total (t)
Capacidade estática
53,4 mi
Capacidade instalada (t)
Déficit estimado
52 mi
Falta de espaço (t)
Para o dirigente, é urgente a criação de políticas públicas específicas para o setor, com incentivos fiscais e linhas de financiamento mais compatíveis com a realidade do campo. Ele defende que o país precisa investir na autonomia da armazenagem, reduzindo a dependência de terceiros e garantindo maior segurança alimentar.
Segundo ele, a falta de armazéns próprios representa um risco para toda a cadeia produtiva, já que crises logísticas, portuárias ou geopolíticas podem comprometer o escoamento da safra. Nesse cenário, o grão que não for exportado precisa ter destino garantido dentro do país, o que hoje não ocorre.
O déficit de armazenagem, portanto, vai além de uma questão operacional. Ele afeta diretamente a competitividade do agronegócio, reduz a margem de lucro dos produtores e coloca em risco a sustentabilidade da produção. Para o setor, armazenar é mais que um desafio, é uma condição essencial para o futuro da agricultura mato-grossense e brasileira.
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