Diante das divergências que persistem entre os ministérios envolvidos, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, reforçou ontem (18/11), na Conferência do Clima (COP30), sua posição contrária à divulgação do novo Plano Clima ainda durante o evento, que ocorre em Belém. O projeto será o guia da política climática brasileira até 2035.
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Na outra ponta, a ideia da gestão Lula, e de pastas como o Ministério do Meio Ambiente, é que o novo Plano Clima seja anunciado no encerramento da COP 30, de acordo com fontes presentes no evento.
“O Plano Clima é um projeto relevante que está em estágio avançado de debate com os arranjos produtivos. Não chegamos ainda a um consenso entre o setor produtivo e o governo, os ministérios envolvidos, mas também não há necessidade nenhuma de que seja anunciado dentro da COP”, afirmou Fávaro a jornalistas na Agrizone, área dedicada ao agronegócio na conferência climática.
O ministro acrescentou que é a favor de mais tempo para a construção das diretrizes para que quando, de fato, for anunciado, o plano seja factível para entrar em vigor. “Se não está pronto, não precisa anunciar o que não está pronto”, enfatizou.
No entanto, ele garantiu que já houve muitos avanços no projeto e “que não está longe” de se chegar a um consenso no governo.
A grande pauta levantada pelo Ministério da Agricultura na COP é a iniciativa Caminho Verde Brasil, que visa a recuperação de até 40 milhões de hectares de pastagens de baixa produtividade ao longo dos próximos dez anos. O Caminho Verde Brasil é novo nome do programa nacional de recuperação de pastagens degradadas, criado pela pasta em 2023.
Em paralelo, há o anúncio do Recuperação e Agricultura Resiliente e Sustentável (Raiz), uma iniciativa global liderada pelo Brasil para a recuperação de áreas degradadas, incluindo pastagens, por meio de financiamento e tecnologias.
O programa se alinha com o objetivo do Caminho Verde Brasil, e gerou tensões internas no ministério, segundo fontes. “O Raiz é um evento da FAO [Agência para Agricultura e Alimentação da ONU]. O Ministério da Agricultura participa demonstrando o modelo, o Caminho Verde, que já é um sucesso no nosso país e pode ser replicado por todo mundo”, disse Fávaro. Em eventos anteriores e na página oficial do ministério, o Raiz era citado como destaque da participação da Pasta na COP30.
Nos corredores da Agrizone, Fávaro também é alvo de críticas de membros do setor pela postura que tem adotado no evento, a chegada considerada tardia -— na segunda semana de debates — e com participação vista como limitada nas áreas onde acontecem as principais decisões da COP, a Blue Zone. O foco ficou na Agrizone.
Indagado pelo Valor sobre as críticas, o ministro ressaltou que não tinha nada a dizer sobre o assunto e ironizou os questionamentos do setor. “Não devia ter vindo?”, afirmou.
“A maioria dos líderes globais e ministros do mundo inteiro esteve aqui na semana passada. A segunda semana é, sobretudo, de discussões técnicas, e onde se chega a conclusões que virarão acordos. [O ministro da Agricultura brasileiro] chegar neste momento foi um tiro no pé”, afirmou uma fonte com trânsito na Blue Zone. Outros três membros do setor fizeram a mesma avaliação negativa da ação da Pasta.
A opção de Fávaro por seguir agenda no município de Tomé-Açu (PA) ontem também desagradou ao setor, pela ausência em eventos específicos da COP.