O nome é pouco conhecido: carinata. Uma oleaginosa originária da Etiópia usada para a produção do SAF, o combustível sustentável da aviação. Em 2025, 43 produtores investiram no cultivo da planta em Mato Grosso do Sul, totalizando cerca de 12 mil hectares plantados, com produção total de 9 mil toneladas.
Jonis Assmann é um dos que investiram na nova cultura.
Ele tem 700 hectares plantados. 267 deles em São Gabriel do Oeste, no centro-norte do Estado.
“O principal objetivo foi renda né, e daí foi aonde eu tive interesse, a convite da empresa que está fomentando ela aqui no Mato Grosso do Sul e no Brasil, em ir lá pra a Argentina conhecer a carinata… lá estava na fase de enchimento de grãos, pré colheita, e também a gente foi visitar um centro de pesquisas muito grande, onde lá tem mais de mil híbridos em desenvolvimento, em pesquisa.”
As hastes da carinata podem chegar a dois metros de altura. A floração dura entre 15 e 20 dias e precede a formação do grão. Eles crescem dentro de sílicas, esteiras parecidas com vagens.
O grão é menor que o da soja. Para a colheita, é necessário adaptação das máquinas.
“Um grão menor do que a gente tá acostumado a trabalhar, porém parecido com o milheiro, então assim, a nossa dificuldade que a gente pensava em ter, seria na regulagem da máquina, só que com essas máquinas novas de rotor, acabou que foi um pouco mais simples que a gente esperava.”, explica o agente agrícola da fazenda de Jonis, em São Gabriel do Oeste, Vanderson Sobral de Oliveira.
Ele disse que começou o plantio em março e teve como maior dificuldade no decorrer da cultura uma praga que não existia nas plantações de soja e milho, mas que foi controlada.
“E na colheita, a dificuldade foi ajuste de operacional, regulagem de peneira, regulagem da máquina. No decorrer da cultura, nos observamos que ela aguenta um pouco da seca, nos teve um intervalo de seca de 10 a 15 dias, ela observei bem, aguentou bem.”, afirmou.
A carinata tem um ciclo que dura entre quatro e cinco meses. É durante o inverno que ela encontra o período ideal pra se desenvolver no Brasil. Rústica e resistente, a planta vinda da África se adapta bem às variações do clima, principalmente em regiões tropicais, suportando tanto o calor quanto os períodos de seca.
A palhada deixada pela carinata impressiona pelo volume e pela presença de galhos mais grossos, que à primeira vista até assustam o produtor. Mas a recomendação técnica é de tranquilidade: em cerca de 20 dias esse material seca no campo, formando uma cobertura eficiente para o solo.
“A carinata produz uma alta quantidade de biomassa, então ela deixa no solo depois em torno de sete a dez toneladas de matéria seca pro cultivo sequente, por hectare. Hoje, as maiores áreas de produção, são aqui no Brasil e na Argentina, os dois países chegando a cerca de 30 mil hectares, cada, nesta safra. Sobre produtividade… a produtividade vai ficar em torno de vinte a vinte e cinco sacos no Brasil, no entanto a gente sabe que a cultura tem potencial genético para muito mais, por exemplo, em áreas experimentais, parcelas pequenas, a gente já observou parcelas com mais de quarenta sacas por hectare na região sul”, disse a engenheira agrônoma Tamara Mundt, da Nuseed, empresa responsável responsável por trazer as primeiras sementes da cultura ao Brasil.
Exportação da carinata
Do campo, a produção segue direto para a indústria, onde será esmagada e transformada em óleo, com destino nobre: abastecer aviões, em forma de biocombustível, reduzindo o uso do querosene, combustível fóssil e poluente.
O técnico agrícola Darlan Maia explica que a produção brasileira e da América do Sul é toda exportada para a França, onde é esmagada e transformada em SAF.
“Essa produção vem de encontro com a necessidade mundial de diminuição de carbono orgânico, ela é toda destinada pra a aviação. A aviação consome todo o SAF produzido mundialmente e ela tem uma crescente, uma demanda até 2050 de se zerar a emissão de gás carbônico proveniente da queima dos gases de combustíveis fósseis, substituindo por biocombustível e a carinata vem de encontro pra ser essa alternativa viável economicamente e sendo uma energia totalmente limpa.”
Para os produtores, a cultura tem deixado boas impressões, já que a rentabilidade de 10 sacas por hectare garante um lucro que o produtor não esperava, já que cultivaram a carinata em áreas que eram apenas de cobertura.
“Hoje ela é vendida e comercializada em cima da saca de soja. Se a saca de soja está 120, a saca de carinata é 120 reais. O custo de produção fica em metade desse valor. E usamos uma área que, provavelmente, seria utilizada para plantio de braquiária para a próxima safra de soja. Como é uma cultura nova, a gente tá aprendendo, e o primeiro ano nosso, só que assim, a gente esperava mais dificuldade, mas tudo é questão de ajuste, então assim, pensando pela dificuldade, tem como trabalhar, agora é só ajustar para os próximos anos e seguir em frente como segunda opção.”, afirma Vanderson.
Se quiser saber mais sobre fontes renováveis de energia, assista ao podcast Agro de Primeira com o presidente da Biosul/MS, Amaury Pekerman, clicando aqui.