Cinco jogos e menos de 90 minutos totalizados em campo. Contratado no segundo semestre de 2007, Hugo Colace teve uma passagem relâmpago pelo Flamengo e que ficou marcada por uma expulsão – tão rápida quanto – em um clássico contra o Vasco.
Passadas quase duas décadas desde o fatídico lance no Maracanã, onde o argentino levou o cartão vermelho após uma entrada dura em Marcelinho, em jogo que terminou em vitória do Rubro-Negro por 2 a 1 em compromisso pelo Brasileirão, as coincidências da vida ligam o ex-volante novamente ao clube da Gávea.
Atualmente técnico do Atlético Tucumán nas categorias de base, Colace vive um verdadeiro dilema dentro da sua própria casa às vésperas do jogo decisivo pela semifinal da CONMEBOL Libertadores. Isso porque a sua esposa é torcedora do Racing, enquanto ele tem uma ligação com o Flamengo – e sonha até mesmo em um dia voltar ao clube carioca.
Em entrevista à ESPN, o ex-jogador lembrou da sua curta passagem pelo Flamengo, lamentando as poucas chances recebidas, e brincou sobre o que espera da semifinal, que terá o segundo jogo disputado no El Cilindro, em Avellaneda.
‘Acabei com um vascaíno’
Contratado pelo Flamengo junto ao Estudiantes, Colace desembarcou no Brasil com 23 anos. À época, o clube vivia uma realidade bem diferente da atual, financeiramente e até mesmo em estrutura. E no seu terceiro jogo com o manto rubro-negro, o argentino acabou protagonizando que marcaria a sua curta passagem por lá.
“(O Flamengo) foi o meu primeiro time fora da Argentina. Foi um início muito bom, me receberam muito bem, os flamenguistas sempre me trataram muito bem, apesar de ter jogado pouco. Teve um jogo com o Vasco e, brincando, me falaram que eu tinha ‘acabado com um vascaíno’ quando fui expulso. Guardo boas recordações, apesar de querer ter participado mais”, lembrou.
“A repercussão não é boa quando te expulsam – e em um clássico. Já me sentia cômodo para seguir jogando, tipo, ‘agora sou o camisa 5 do Flamengo’. Estávamos bem, a má sorte foi a agressividade que se viu quando me joguei no chão para tirar aquela bola, e obviamente o (jogador) adversário foi inteligente e se jogou, deu voltas no ar. Inclusive, não encontro o vídeo (do lance), é muito velho”, contou o argentino, que ainda revelou que o lance não abalou de forma alguma a sua relação com a torcida.
“Nunca tive (a torcida do Flamengo) contra, inclusive quando fui embora me reconheciam muito e a torcida me tratava muito bem. Foi um acidente em campo (a expulsão). Tenho uma boa recordação da torcida do Flamengo. Me lembro de ter jogador um Fla-Flu e me aplaudiram quando falaram o meu nome. Quando você está no campo você não vai se dando conta de muitas coisas. É a torcida mais importante do mundo, a que tem mais torcedores no mundo.”
O seu último jogo pelo Flamengo foi em fevereiro de 2008, menos de seis meses após a sua chegada, em um Fla-Flu. Colace então rumou à Europa para defender o Barnsley, da Inglaterra. Ainda que apagada, a passagem pelo Rubro-Negro fez o argentino nutrir o sentimento de um dia voltar.
E depois de cogitar até mesmo jogar de graça pelo Flamengo, algo que não se concretizou enquanto jogador, o agora treinador revelou que sonha em um dia poder treinar o ex-clube.
“Quando você adquire experiência, inclusive na Europa, pensa até mesmo em não ter uma prioridade financeira para poder tentar mudar certas coisas, que às vezes você voltar e mudar essa imagem. Eu gostaria de ter voltado (ao Flamengo como jogador), ficaria encantado, mas o futebol dá voltas e, claro, um dos meus sonhos, para além de trabalhar na Europa, seria maravilhoso ter a possibilidade (de treinar o Flamengo). Seria algo impressionante, poder mudar a minha imagem do passado sendo treinador do Flamengo”, disse.
“Sei que isso pode acontecer porque sinto que todos os dias estou me capacitando e em algum momento virão coisas boas”, continuou, elogiando também o trabalho de Filipe Luís no Flamengo.
“Está demonstrando que é claramente (um técnico para a Europa). É admirável o trabalho que vem fazendo, tem boa presença, boa leitura. Se ele está assim no Flamengo, muito em breve vai trabalhar na Europa.”
‘Aí podemos ter problemas’
Sobre a sinuca de bico que a semifinal da Libertadores entre Racing e Flamengo o deixou, Hugo Colace brincou e disse que ficará “neutro” na disputa para não ter problemas em casa.
“Ela (esposa) é tranquila, toda a família dela torce para o Racing. Os meus melhores amigos são torcedores do Racing. Todos estão sonhando, mas o Flamengo é um clube importante. Aí podemos ter muitos problemas (torcer por Flamengo ou Racing), hoje trabalho no Atlético Tucumán, então torço para o Tucumán (risos).”
O ex-rubro-negro ainda elogiou a qualidade do elenco comandado por Filipe Luís e destacou o meio-campo.
“Tendo todos esses companheiros, acho que se eu estivesse nesse meio-campo eu jogaria bem (risos). Até mesmo na minha época haviam jogadores muito bons no time, o Flamengo sempre teve qualidade e procurou jogar um bom futebol, hoje não é uma exceção. Os flamenguistas têm que estar esperançosos sempre de ganhar tudo o que podem”, finalizou.
Depois de vencer na ida por 1 a 0, o Flamengo avança à final da Libertadores com um empate. Revés por um gol de diferença leva a disputa para as penalidades. Vitória do Racing por dois ou mais gols de diferença classifica o time argentino.