O crescente abate de fêmeas nos últimos três anos em Mato Grosso do Sul vai reduzir a oferta de matrizes e consequentemente de bazerros para o próximo ciclo reprodutivo. Especialistas recomendam gestão preventiva aos produtores.
O abate de fêmeas é um dos principais fatores que influenciam a oferta futura de animais. O cenário varia conforme o preço do bezerro e a rentabilidade da atividade de cria. Sendo assim, quando ambos estão elevados, a tendência é reduzir o descarte de matrizes.
O Painel da Pecuária de Mato Grosso do Sul, da Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal) aponta que, de janeiro a setembro de 2025, o rebanho estadual de bovinos foi de mais de 16,8 milhões de animais. Deste total, cerca de 5,69 milhões eram machos e 10,76 milhões fêmeas.
Vale destacar que 48,9% das fêmeas que compõem a base de dados possuíam mais de 36 meses.

O abate de vacas foi recorde em setembro, representando cerca de 64% do total. No acumulado deste ano, 1,67 milhão de fêmeas e 1,60 milhão de machos foram abatidos, totalizando 3,28 milhões em carcaças.
O crescente processamento têm provocado o debate acerca das incertezas e medos pela falta de bezerros em 2026. E para acalmar os ânimos, entidades e especialistas do setor explicam que apesar das altas escalonadas, o cenário é normal. Entretanto, o pecuarista deve se planejar para evitar perdas e gastos desnecessários.
Cenário atual
O consultor técnico em pecuária da Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul), Diego Gomes Freire Guidolin, afirma que, apesar do abate significativo da vacada, ainda não houve carência de bezerros no mercado, fator segundo ele decorrente do avanço tecnológico, maior eficiência produtiva e ganhos reprodutivos.
“Entre 2018 e 2024, por exemplo, o rebanho de fêmeas acima de 24 meses caiu de 11 milhões para cerca de 9 milhões de cabeças. No mesmo período, o número de nascimentos aumentou de 3,9 milhões para 4,1 milhões, elevando a taxa de desfrute de 35% para 44%, um avanço de aproximadamente 10 pontos percentuais”, explicou Gomes.

Segundo o coordenador de pecuária do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), Thiago Bernardino de Carvalho, o aumento do processamento de fêmeas e a baixa na oferta de bezerros sinalizam uma mudança de ciclo, como foi vista em 2021.
“Nesse cenário, a gente tem um abate maior de fêmeas, porque estamos produzindo mais, o que também sinaliza essa mudança de ciclo em 2025. Em 2026, a oferta de bezerro deve sim ser reduzida e os preços devem subir”, afirmou.
Preços futuros
As alterações por ciclo pecuário moldam a oferta e demanda dos produtos pecuários em Mato Grosso do Sul. O coordenador de pecuária do Cepea afirma que há um período de tempo para as baixas e os picos de altas pelo bezerro.
“De modo geral, o setor tem 4 anos de baixa e 2,5 anos de alta até o pico de preços do bezerro, com reduções na média de 33% e aumentos por volta de 83%. Mas atenção, pois tudo varia da disponibilidade de animais, condição de pastagem seca e até mesmo das exportações, podendo encurtar ou expandir um pouco mais”, explicou.
De acordo com a série mensal do Indicador do Bezerro Esalq/BM&F Mato Grosso do Sul disponibilizada por Carvalho, o tempo transcorrido do ponto mais baixo do gráfico de valores até o mais alto varia entre 30 e 32 meses, e os percentuais de recuperação são de 80 a 86 meses.
Sendo assim, a valorização iniciada em setembro de 2025 deve seguir até março de 2028.

A redução natural na disponibilidade de animais em 2026, abre espaço para uma valorização da arroba e novas oportunidades de investimentos no setor.
O presidente da Acrissul ( Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Guilherme de Barros Bumlai, aponta que o mercado externo deve ser um dos pontos de sustentação para os preços praticados.
“Acreditamos que o mercado externo continuará sendo um ponto de sustentação de preços, com a demanda asiática ainda bastante presente, mas com necessidade de buscarmos novas aberturas e acordos comerciais”, explicou.
Planejamento estratégico
Apesar das preocupações entre os produtores, os baixos estoques no Brasil e no mundo, são favoráveis à novos investimentos estratégicos.
Thiago Bernardino de Carvalho afirma que o pecuarista deve estar atento a todos esses movimentos de mercado, para que suas atividades tenham retorno financeiro positivo e minimizar possíveis perdas.
“É preciso ter um fluxo de caixa sabendo que vai haver ciclos de preços, como sempre ocorreu e sempre vai ocorrer. O mercado está evoluindo bastante e o produtor precisa evoluir junto”, pontuou.
Além disso, o especialista indica que o pecuarista deve buscar apoio junto a instituições e sindicatos locais para a troca de conhecimentos, acesso a tecnologias e fortalecimento do setor.

O Sistema Famasul disponibiliza boletins técnicos mensais com preços da arroba, reposição, mercado futuro e notícias que impactam a cadeia produtiva, além de promover Dias de Campo e eventos voltados à capacitação, aproximando os produtores rurais de Mato Grosso do Sul à informações necessárias para a tomada de decisão.
Outra entidade que também auxilia o produtor rural no estado é a Acrissul. Em novembro a associação promoverá encontros voltados especificamente para o cenário de preço, perspectivas de exportação e novas tecnologias aplicadas à pecuária.
O presidente Guilherme Bumlai, explica que o objetivo das reuniões é apresentar ao pecuarista informações fundamentais junto à Unapec (União Nacional da Pecuária), reforçando questões relacionadas à sustentabilidade, rastreabilidade e agregação de valor à carne brasileira.
“O momento exige união e profissionalização. O futuro da nossa pecuária passa por eficiência produtiva, inovação e por uma maior integração com a sociedade, mostrando o papel positivo que o boi tem na economia e no meio ambiente”, explicou Bumlai.
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